segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Apedreja essa mão vil que te afaga. Escarra nessa boca que te beija".

Não sou uma pessoa triste. Não me tornei uma pessoa triste. Não sou do tipo que cultiva mágoas... porque elas me levam a lugar nenhum. As pessoas que me magoam são excluídas da minha vida quando não consigo perdoá-las. É... tem coisas que pra mim não têm perdão. Assumo e banco!!! Já raiva... isso sim eu sinto. Mas não por muito tempo, porque quando a sinto ela é tão forte que me enfraquece, me debilita... então eu desisto. Viro a página e simplesmente... esqueço.

Por incrível que pareça, estou no momento mais feliz da minha vida. E não é porque estou feliz que perdi a capacidade de analisar as coisas com clareza e até certa "crueza", eu diria. Mas minhas palavras não têm amargura... têm a acidez típica dos que acreditam que "a estrada vai além do que se vê". Isso traz poesia, mas também traz acidez... É o doce e o amargo, que fazem parte de tudo.

Quem me conhece sabe que não sou triste, amarga ou qualquer coisa que o valha. Tudo que falo do humano, coisas boas ou ruins, falo porque também o sou. Quando falo dos outros, acabo falando de mim também. O olhar do outro permite que me volte para mim, que eu perceba a minha essência... e o meu olhar também dá essa possibilidade a ele. Por isso é que "o inferno são os outros". Sartre explica!!! Eu estou aqui assumindo esse papel... que me permite falar justamente por me reconhecer nestes "outros".

Fico por aqui e vou da filosofia para a poesia. Brindemos com as palavras de Augusto dos Anjos:

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Amargura que nada... é só uma pequena dose de realidade que, de vez em quando, faz tão bem quanto a de caipirinha!!!

sábado, 26 de dezembro de 2009

O que é o natal?


Eu nunca tive estas frescuras de espírito natalino e coisa e tal. Sempre achei a ocasião bem chata, triste e muito fake. Não mando cartão ou ligo pra ninguém pra desejar feliz natal. Acho isso uma bobagem. O natal definitivamente não me comove.

No natal as pessoas se revestem de uma bondade e compaixão hipócritas, na maioria dos casos. Acham que em uma noite ou semana podem se redimir de toda aspereza, indiferença e vilania que distribuiram durante ano. Fazem tipo, escrevem cartões e fazem ligações com o único intuito de se sentirem melhor. É uma bondade egoísta, que na verdade só tem o propósito de aliviar o peso dos erros cometidos e tentar "comungar" com Deus. Procuram ficar próximos dos familiares que evitam durante todo o ano, dão dinheiro no semáforo, distribuem presentes em orfanatos, visitam doentes em hospitais, distribuem comida para moradores de rua... com o único fim de subir mais um degrau com destino ao céu.

Além destes, têm aqueles que se aproveitam da ocasião, em que teoricamente os corações estão amolecidos e o perdão é propalado por todos, para buscarem a redenção. Mais uma vez as pessoas se aproveitam do momento para agirem em benefício próprio. Não pensam no outro. Pensam em si mesmos e só. Querem se sentir bem consigo mesmo e saem procurando alguém que possa lhe fazer essa gentileza, que possa lhe aliviar a alma e o coração. É patético.

Que espírito de natal é esse? Cristãs ou não, o que se passa na cabeça e no coração das pessoas? Fico a me perguntar... acho que nunca saberei, afinal de contas minha avó já dizia: "Coração de gente é terra que ninguém habita..."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ela magoou meu amigo...

Precisa ser castigada!!!

Ouvi esta frase na tv, numa das minhas séries prediletas. Um sorriso se plantou no meu rosto na mesma hora. Foi a típica reação de quem recebe a aprovação por algo que faz ou pensa. Eu penso assim... quem magoa os que eu amo, precisa ser castigado!!!

O castigo não precisa ser necessariamente uma vingança elaborada, um plano infalível de destruição do inimigo. Eu não gosto destas coisas. Para mim, uma boa dose de desprezo já é suficiente. O desprezo e a indiferença tem um efeito tão devastador quanto qualquer plano mirabolante que possamos conceber. Quer dizer... ele só tem o efeito desejado em quem tem discernimento suficiente para compreendê-lo em sua essência, caso contrário, torna-se inócuo.

As pessoas que magoam quem eu amo, passam a ter de mim apenas meu mais absoluto desprezo, minha mais cruel indiferença. Não tem perdão. A vítima, meu amigo, pode até perdoar, mas eu nunca mais serei a mesma com aquela pessoa. Nunca mais permitirei que ela seja parte da minha vida de novo. Posso até conviver, tolerar em respeito a pessoa que amo... mas perdoar, retomar a relação... never!!!

É curioso porque eu sou capaz de perdoar alguém que tenha me magoado... mas perdoar quem magou profundamente quem amo, pra mim é inconcebível. É muita loucura, eu sei. Mas é assim que sou. Passional e implacável quando se trata de proteger meus amores.

Meus amigos são meu maior tesouro... sou como um pirata empedernido que dá sua vida para preservar aquilo que considera de valor. Ajo como uma felina protegendo sua cria, como uma cobra que cuida do seu ninho. Se necessário for, firo, mordo e pico sem piedade!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Como é que se diz eu te amo

Sentada na janela de casa, ela chama por ele. Apenas um andar os separa. Ele aparece na janela, sorri e pergunta:

- O que é sua louca?

Ela sorri de volta e diz:

- Eu queria te dizer uma coisa! Quero declarar meu amor por ti... Quero dizer que você é meu raio de sol. Que você faz minha vida ficar mais bonita. Você traz cores para o meu dia, mesmo quando o cinza e a chuva insistem. Sem você sou pá furada. Quando você não está me falta algo essencial... falta o ar. Quero estar contigo até o último dos meus dias. Você é cúmplice dos meus delitos e devaneios. Com você me sinto criança de novo. Você me faz rir... com você eu choro sem constrangimento. Meu coração é teu. O melhor de mim é teu. O pior de mim é teu também e o meu pior não te assusta, não te repele. Você é canção do Chico na voz da Bethânia.... é crônica dilacerante do Caio... conto lacrimejante da Clarice. Dizer eu te amo é clichê... eu quero inventar uma palavra nova!

Com os olhos flamejantes ele gritou:

- Eu te amo também.

Simples assim.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dama, Vale e Rei... Você Perdeu!


Na segunda-feira fui à casa de um amigo comemorar seu ingresso no mestrado. Ele é um menino prodígio, ex-seminarista, estudante de Filosofia e Artes do Corpo aqui na PUC. Fomos brindar mais esta conquista na sua vida... e brindar com quem se gosta não tem preço.

Chegando lá, nos abraçamos, sorrimos... e de repente a sala foi inundada por um perfume inebriante... era Bethânia e sua música que encheu o ar de um aroma escarlate. O cd: Tua. As músicas: Dama, Valete e Rei (Ruthinaldo e Paulo Gracindo) e Você perdeu (Márcio Valverde e Nélio Rosa).

Eu nunca tinha ouvido, achava que era uma música só tamanha a relação entre as duas. Bethânia tem um feeling ímpar pra certas proezas... unir e dar sentido a duas coisas, fazendo-as parecer uma só. Fusão, sem ônus para nenhuma das partes. A primeira música ela declama poeticamente... a segunda ela canta, como ninguém seria capaz de fazer. As letras dizem muito e tenho certeza que ela não as escolheu e fundiu a toa. É lindo de ouvir... é lindo de ler.

Quem nasceu valete
Não se mete a rei
O amor não vale trinca
Com a sorte não se brinca
E eu brinquei

O meu castelo
Eu fiz na lama
Era falsa a minha dama
Vou procurar esquecer
Ela foi o blefe
Que eu paguei pra ver.

Noves fora, quase nada
E era de vidro o anel
Meia volta na ciranda
Não há estrelas no céu
Não tem saudade nem mágoa
Meu amor fala outra língua
De você o que naufraga
De você só o que míngua
Sua graça não me anima
O meu pranto não é seu
Já dobrei aquela esquina
Onde você me perdeu

Foi você quem se perdeu de mim
Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu
Você perdeu

Vou dizer num verso breve
Pra por num samba-canção
Que hoje a minha vida é leve
Sem você no coração
Hoje tenho quem desvele
Quem me vista à fantasia
Quem escreva em minha pele
Coisas que eu não lhe diria
Hoje a minha vida rima
E agradeço àquele adeus
Que eu vi naquela esquina
Em que você me perdeu

Foi você quem se perdeu de mim
Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu
Você perdeu

"Música é perfume"... Bethânia já dizia. Ela inunda e marca... as lembranças e a vida.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mensagem para você


Hoje eu recebi dois e-mails que me encheram de alegria.

O primeiro foi de um ex-namorado. Nossa história não durou muito, mas foi intensa... como as coisas costumam ser na minha vida. Detesto mornidão!

Ele era complicado e eu jovem demais. Ele era conservador e eu libertária... não me deixava domar. Ele era execessivamente cauteloso e eu me jogava nos abismos sem fim. Ele queria que eu fosse do seu jeito... eu queria que ele fosse do meu. Amor existia entre nós... talvez não existisse a compreensão necessária, de ambas as partes, de que o amor exige concessão. Não falo daquele tipo de concessão que faz um se perder na vida do outro, mas daquela que permite que andemos lado a lado... compartilhando a vida COM o outro.

Mesmo assim crescemos juntos na curta e intensa relação. O namoro acabou, mas a cumplicidade, o companheirismo, o respeito e a amizade não. Tenho orgulho de conseguir manter isso nas minhas relações amorosas. Só não aconteceu em duas ocasiões... e eu sinceramente não lamento.

Não nos falamos com frequência e nos vemos com menos frequência ainda. Mas o amor está lá. Intacto, protegido, sacralizado... como todo amor deve ser. Até hoje há quem acredite que nascemos um para o outro, que ainda ficaremos juntos... principalmente minha mãe. Eu prefiro as coisas como estão.

Hoje ele me mandou notícias. Me contava sobre sua nova etapa da vida, sobre a primeira vez que ousa... que arrisca. Está abrindo um negócio, que tenho certeza que dará muito certo. Jogou pra cima o emprego estável, mas que não lhe trazia a alegria necessária, e resolveu arriscar.

Eis o seu texto:

"Nega,

Liguei para sua mãe, tentei disfarçar a voz, porém fui reconhecido de imediato. Ela é uma pessoa maravilhosa. Gosta mesmo de mim. Que bom! Tenho um carinho muito grande por ela também. A reza dela é tão forte que não esqueço você. Seu lugar é vitalício no meu coração. Enquanto estive contigo minha vida só fez melhorar. Isso é notório e indubitável. Sua energia me fez e faz muito bem. Tenho muito orgulho e uma grande admiração por ti. E saiba que para abrir esse negócio pensei muito nas nossas conversas, nos seus conselhos, na compra do carro. Lembra? Uma loucura... Quase não assino o cheque. Rsrsrs... Enfim, tens muita participação nessa minha nova empreitada. Me ligue quando chegar.

Saudades,

Fê."

O segundo e-mail foi de uma amiga que eu nem sei como descrever. Nossa história é meio louca... nossa amizade começou de maneira pouco convencional. Temos momentos de intensa interatividade, mesmo longe... e temos momentos de distanciamento silencioso. Mas na hora do desespero, na hora que a angústia bate... corremos uma pro colo da outra. Somos verdadeiras, porém cuidadosas... embora tenhamos que ser até cruéis em algumas circunstâncias. Dizemos tudo que precisa ser dito pra que possamos nos tornar pessoas melhores. Ouvimos coisas que só se permite a um amigo de verdade dizer. Tapa na cara, soco no estômago. Os amigos têm essa responsabilidade e nós duas sabemos disso.

O assunto do seu e-mail era "grande novidade" e o texto dizia o seguinte:

"Nada não minha preta, só pra dizer que...

TE AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

Não vejo a hora de te abraçar!"

A recíproca é 100% verdadeira, nos dois casos. Eles me ensinaram muitas coisas, principalmente sobre compromisso, honestidade, responsabilidade com o outro, doação, abrir mão e, principlamente, sobre amar. Eles me ajudam a ser uma pessoa melhor a cada dia.

A única coisa que me preocupa, é que não sei se sou digna de tanto amor... Porque amor exige dignidade.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobre o silêncio...


Nossa... faz tempo que não escrevo! Estava vivendo.

É engraçada essa nova fase, em que o silêncio passou a ser parte importante da minha maneira de processar as coisas e VIVER!

Sempre fui de falar muito. Falar pelos cotovelos. Falar com o corpo.

Sempre tive uma enorme necessidade de colocar as coisas pra fora, por julgar que elas não cabiam aqui dentro. Falava o que sentia, o que pensava... porque acreditava que era assim que as coisas tinham que ser. Sempre ditas. Benditas ou malditas... as palavras tinham que sair de mim, pra eu me sentir mais leve, pra que eu não sufocasse, porque elas não cabiam em mim.

Agora vivo outro momento. Não sei se motivado pelo amadurecimento que o tempo provoca, ou pelo simples fato de que, depois que se fala tanto e nada acontece, nada muda... passamos a questionar o valor das palavras ditas.

Estou a viver a plenitude do silêncio. Plenitude de verdade... porque tem me feito tão bem não falar. Apenas sentir, pensar, processar e... silenciar. O silêncio nos ensina a dominar os ímpetos e as paixões... as urgências e as ansiedades.

É como estar de frente pro mar num dia de primavera, recebendo no rosto a sua brisa que dissolve as palavras e as transforma em coisa etérea.