sábado, 10 de outubro de 2009

Rei Midas

Em minhas leituras noturnas, acabei por me deparar com um texto que contava a história do Rei Midas. Já conhecia por alto a história do rei que tranformava em ouro tudo que tocava, mas até então nunca havia lido com atenção sua história. O termo "toque de Midas" é muito usual em nossa cultura e refere-se às pessoas que obtêm êxito em tudo aquilo em que se envolvem. Bem como, o anti-Midas é aquele que tem a "capacidade" de fazer dar errado tudo aquilo em que "se mete", o famoso "dedo podre". Depois de ler o mito, acredito que esta diferenciação seja relativamente equivocada, mas como já fora consolidada pelo uso, ainda nos servirá para diferenciar os que "constróem" dos que "destróem".
O resumo da ópera é o seguinte:
O Rei Midas era poderosíssimo, extremamente rico... e tinha um defeito: era um néscio! Esta estupidez, juntamente com a ganância que lhe era peculiar, lhe custaram muito caro.
Seus problemas tiveram início quando hospedou o sátiso Sileno, fiel e inseparável amigo de Dionísio, o deus do vinho e do prazer. Durante uma festa, Sileno embriagou-se, afastou-se dos companheiros e foi parar no jardim do Rei Midas. Então, o Senhor da Frígia o reteve durante dez dias em sua rica morada, tratando-o com todo o respeito e deferência. Passado este período, o Rei entregou o sátiro a Dionísio, que, para recompensá-lo da hospitabilidade dada ao seu amigo, disse-lhe que lhe concederia um único desejo. Neste momento Midas mostrou o que para ele realmente tinha valor no mundo: a riqueza, que por sinal ele já tinha. Numa atitude impensada, pediu a Dionísio o poder de transformar em ouro tudo que tocasse.
Dionísio não preveniu o arrogante monarca para que refletisse bem antes de pedir algo daquela natureza e, provavelmente porque gostava de brincar, não se recusou em atender ao pedido do seu anfitrião. A partir daquele momento, tudo que Midas tocasse com a mão se transformaria em ouro.
A princípio, uma enorme alegria invadiu o coração do poderoso senhor da Frígia, que pensava que se tornaria o rei mais rico de toda a terra, e isso era realmente possível. O que ele não imaginava eram os problemas que iria ter a partir de então pois, todo alimento que tocasse logo se tranformaria em ouro maçiço, impossibilianto sua ingestão. Quando tocasse em qualquer pessoa, esta imediatamente se tranformaria em uma estátua de ouro, como aconteceu à sua filha. Assim, poderia ter todo o ouro do mundo, mas jamais poderia comer ou tocar aqueles que amava.
Quando deu por si, o rei percebeu o grande desastre que foi a sua escolha e as consequências nefastas dela advinda. Pediu a Dionísio que revertesse a situação e prontamente foi atendido.
Ficou a lição sobre o que realmente importa na vida. Ele descobriu da pior maneira possível que temos que ter cuidado com as nossas escolhas. Que não vale a pena trocar uma alegria fugaz por algo que possa ser perene. Que devemos pensar bem no que de fato tem valor pra nós, no que realmente importa.
Eu a cada dia mais penso no que realmente importa para mim. Distante "dos meus", pelo menos físicamente, tenho tido a chance de pensar muito no quanto eles são importantes. Aqui, de longe, tenho tido a oportunidade de reafirmar o quanto aqueles que amo são as únicas coisas que me importam... Que preservar o amor e a mizade dos que me querem bem é a única tarefa da qual eu não posso me furtar por um segundo sequer dos meus dias. Que cuidado, carinho e respeito são o mínimo que posso oferecê-los.
Não quero ser uma Midas, que desconhece o real valor das coisas e "mata" o que me alimenta e afaga. Quero sim ser uma Midas, se isso significar tranformar em beleza e doçura tudo que me cerca... se significar tornar melhor os meus dias e os de quem o cruzar.
Pra terminar, posto um trecho de "A balada do Cárcere de Reading", do Oscar Wilde. Creio que explica muito bem o Midas e o anti-Midas que habita todos nós. Ele escreveu este célebre texto quando estava preso em Reading, acusado de "práticas homossexuais". Wilde chamava isso de "amor que não ousa dizer o nome". Sua prisão ocorreu em consequência de uma denúncia feita pelo pai de Lord Douglas, o Bosie, um rapaz por quem Wilde se apaixonara, e que arruinou a sua vida.
"[...] O homem matara a coisa amada, e ora devia
Com a morte pagar.

Apesar disso - escutem bem - todos os homens
Matam a coisa amada;
Com galanteio alguns o fazem, enquanto outros
Com face amargurada;
Os covardes o fazem com um beijo,
Os bravos, com a espada!
Um assassina o seu amor na juventude,
Outro, quando ancião;
Com as mãos da Luxúria este estrangula, aquele
Empresta do Ouro a mão;
Os mais gentis usam a faca, porque frios
Os mortos logo estão.

Este ama pouco tempo, aquele ama demais;
Há comprar, e há vender;
Uns fazem o ato em pranto, enquanto que um suspiro
Outros não dão sequer.
Todo homem mata a coisa amada!
- Nem por isso
Todo homem vai morrer.
[...]"

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