domingo, 25 de outubro de 2009

Saindo da gaveta

Escrevi este texto quando completei 3 meses aqui. Se tudo der certo... faltam exatos 30 dias para o meu retorno ao Brasil. Como não gosto de deixar nada guardado, compartilho tardiamente com vocês o escrito "antigo".

Hoje completo três meses em Angola. Para mim é uma grande vitória, tendo em vista todos os percalços que passei, as angústias, as dúvidas e a saudade que desde sempre me acompanha. Eu prometi que ia escrever sobre as minhas vivências aqui... e não cumpri com a promessa até então.

A partir de agora compartilharei. Tudo. Ou quase... Como já tenho um tempinho considerável por aqui, me sinto mais à vontade pra falar sobre o lugar, as coisas e, principalmente, as pessoas. Prefiro sempre as pessoas aos lugares e as coisas. Gente, para mim, é o céu e o inferno. Abriga em si o bem e o mal, e o expressa como nada mais pode fazer. Então falarei sobre meu tema predileto: as pessoas.

Viajei por 5 províncias, das 18 que Angola possui. Em cada uma delas me supreendi com as pessoas. Me encantei por elas. Me encantei pela beleza e simplicidade. Pelo olhar expressivo e pela dor disfarçada em sorriso. Pelo corpo firme e seguro, apesar do cansaço da luta diária. Pelas crianças que estão em todo lado que você lance o olhar. Elas sempre estão lá cheias de vida, com seus trapos sujos, suas faces cheias de curiosidade... e o ar de peraltice que nenhuma dureza da vida é capaz de roubar por completo. Apesar de tudo isso, a característica desse povo que mais me impressiona é a resiliência.

A resiliência é um conceito relativamente novo no Brasil e a inda se encontra em processo de construção teórica. Ele se originou na Física, mas hoje foi assumido pelas Ciências Humanas, principalmente a Psicologia, e é comumente usado para se referir processos humanos. Grosso modo, pode-se dizer que resiliência é o fenômeno de superação de situações adversas e estressoras.

Mas, voltando aos angolanos que cruzei... é impressionante como este parece um traço marcante. Haja situações estressoras e adversas pra este povo. E eles vivem... e sobrevivem. Não falam de suas vidas com amargura. Não falam no passado triste. Falam no presente difícil e no que esperam para um futuro próximo. Eu vou ao encontro deles para saber qual é a escola dos seus sonhos. Eles têm dificuldade em compreender o que isso quer dizer. É engraçado... porque pra nós é tão óbvio! Mas talvez eles não estejam habituados a sonhar, ou então, não estão acostumados a terem alguém querendo ouvir sobre eles. Eu prefiro crer na segunda opção.

Por tudo isso meu trabalho é uma delícia... eu adoro e não me imagino fazendo outra coisa. Adoro a itinerância e as pessoas... adoro conhecer e revelar.

2 comentários:

  1. e não esquecer jamais que você é PEDAGOGA, fia!!!!!

    Pa mandou te falar que adorou teu blog, lê sempre e que vc tem que escrever um livro sobre essa experiência.

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  2. E quem disse que eu esqueço?! rsrs...
    Sobre o livro... é muita pretensão!! Mas já é uma honra alguém imaginar que fosse possível. Pá é uma fofa!!

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